Livro I — Capítulo I



          Um ônibus não muito conservado cruzava as ruas mais distantes de Mistralton, no limite a nordeste da cidade. Tremia ao passar sobre o asfalto esburacado e emitia um som muito característico daquele tipo de transporte. Já era noite e havia pouca iluminação naquela região, cujo caminho levava diretamente à rota de número sete.
          No interior da condução se contava apenas mais uma pessoa além do motorista, que ansiosamente conferia as horas no relógio em seu pulso, desejando mais que tudo o fim de seu expediente. Tratava-se de um jovem rapaz distraído com a escuridão que encarava através da janela. Cantarolava baixinho a canção que escutava com seus fones de ouvido e carregava em seu colo uma sacola plástica, onde estava guardado o vinho mais barato que encontrara no mercado próximo de sua casa.
          Conhecia melhor que ninguém aquele caminho afastado e não havia de ser diferente, mediante a tantas vezes que se viu naquele mesmo ônibus, indo visitar o velho amigo em seu local de descanso. A ocasião era importante, visto que pelos próximos meses não teria previsão de uma visita, então precisava dizer um “até logo” que mantivesse sua consciência minimamente tranquila.
Levantou num pulo quando avistou do lado de fora uma placa iluminada que marcava o início da rota sete. Deu sinal para o motorista e rapidamente desceu do ônibus, que partiu dali deixando um rastro de poeira no ar. Encontrava-se sozinho no lugar e respirava profundamente, sempre pensava o quão curioso era a mudança de cheiro que acontecia ao se afastar da cidade. Também se maravilhava com as inúmeras estrelas que o céu mais distante de Mistralton tinha o orgulho de ostentar.
Começou a caminhar pela estrada de terra batida que levava até seu destino com passos apressados de quem não gostava nada do frio que fazia, já que mesmo depois de muito escolher o que vestir para a ocasião, acabara decidindo por vestes que pouco o agasalhavam. Seus olhos encaravam uma construção antiga que mesmo escondida por detrás das sombras da noite, já apontava no horizonte.
Aquela era, para muitos, um dos pontos mais sinistros de Unova, mas para o jovem não. Torre Celestial era como era chamada e suas paredes velhas e nostalgicamente danificadas pelas mãos do tempo guardavam os restos mortais dos Pokémons que já não estavam entre os vivos. Era um cemitério.
Quanto mais se aproximava da torre, melhor conseguia admirar sua grandiosidade. Não a via como o prédio sombrio que a maioria das pessoas descrevia. Apreciava sua imponência, que sob a luz da lua ganhava um charme único. Cada um dos tijolos acinzentados que a erguiam pareciam brilhar prateados naquele horário, era de fato lindíssima. Apropriada para a função que lhe cabia.
Já há poucos metros da construção, avistou a figura familiar de sua melhor amiga recostada ao lado da porta de entrada da torre. Estava distraída com a leitura de um livro que lhe instigava como há muito um livro não conseguia. Precisou olhar mais atentamente para perceber a presença taciturna de um felino que se esgueirava por entre as pernas da garota. Os pelos escuros da Purrloin eram perfeitos para se camuflar nas sombras, sendo seus olhos verdes e dissimulados a única parte que lhe escapava. Despertou sua treinadora de seu transe literário com miados manhosos, ao perceber a presença do rapaz.
— Finalmente! — exclamou a menina com um sorriso no rosto, ao avistá-lo. Fechou o livro e o guardou em sua bolsa.
— O ônibus atrasou, me desculpa — ele disse, antes de dar um abraço apertado na amiga.
— De boa, eu tava lendo enquanto te esperava. correndo pra terminar antes da gente ir.
— E o que você achando­­?
— Excelente! O fim tá me surpreendendo — contou empolgada. — Conseguiu comprar o vinho­­?
— Claro — lhe entregou a sacola. — O mesmo da semana passada.
Ótima notícia, afinal era um dos mais baratos que encontraram nos últimos tempos. A garota retirou de um dos bolsos de sua calça uma quantia de dinheiro, sua parte na compra da bebida. Ele pegou as moedas e se agachou na altura da Purrloin, acariciando seu pelo brilhante e macio.
— Tá tudo bem? Quer que eu suba lá com você? — ela perguntou, enquanto abria a garrafa de plástico.
— Tranquilo, eu vou rapidinho e já volto.
— Eu nem acredito que vamos beber vinho num cemitério — e tomou um gole. — Me sinto com quinze anos de novo!
— Veio toda de preto em homenagem aos velhos tempos? — ela vestia uma calça jeans azul, mas todas as demais peças eram pretas.
— Juro que não foi planejado! — riu.
O rapaz então se levantou e não hesitou ao atravessar a porta da torre que como de costume estava aberta para visitação. Ao entrar, se deparou com a visão de sempre: paredes altas e machadas, repletas de padrões que se repetiam por toda sua extensão. Havia uma enorme escada espiral dando acesso aos demais andares, que desde o primeiro já expunham os mais diferentes tipos de túmulos.
— Noite... — disse um senhor, assentado numa cadeira caindo aos pedaços, bem ao lado da porta. Seus olhos estavam fechados e seus braços cruzados, tentando se aquecer.
— Boa noite — respondeu o garoto, que via aquele mesmo idoso toda vez que ia ao lugar, independente da hora. Todavia, nunca trocaram mais que bons dias, tardes e noites.
Prosseguiu em direção à escada. Seu objetivo era chegar ao andar de número três, onde estava enterrado seu velho amigo. Enquanto subia, observava ao seu redor, não era comum ter visitantes naquele horário, então ele era provavelmente o único humano ali além do zelador. Seu caminho era abarrotado de pensamentos. Recordava-se de tudo que acontecera e que o levava até momentos como aquele, que se repetiam pelo menos uma vez a cada estação, quando retirava um tempo para rever seu Pokémon, o único que já tivera, até então.
O jovem respondia pelo nome de Tristan e por muitos anos, principalmente durante a infância, tivera sua imagem mesclada com a de seu sonho, que era se tornar um treinador de Pokémons. Nada de novo, já que a maioria das crianças de Unova, quiçá do mundo, compartilhavam deste mesmo desejo. Desde muito novo ele passava horas se dedicando ao assunto, assistindo batalhas, lendo livros e importunando seus pais com a ansiedade para o dia em que finalmente pudesse sair viajando pelo continente, vivendo suas próprias aventuras.
Sua mãe jamais o permitiria esquecer das diversas vezes em que o menino surgia em casa trazendo alguma criatura das ruas, implorando para que pudessem ficar, perante juras de que não causariam qualquer problema ou interfeririam na rotina da família. A mulher conseguiu adiar o momento por muito tempo, temendo que o filho ainda fosse novo para tamanha responsabilidade, até que certo dia um Tristan já pré-adolescente, com seus 12 anos, voltou da escola acompanhado de um pequeno Lilipup desabrigado que conseguiu facilmente conquistar o carinho de todos.
Os dois se tornaram inseparáveis e daquele dia em diante, Tristan compartilhou com seu novo amigo o sonho que nutria em seu coração. Cuidava do Lilipup melhor que de si mesmo, orando a Celebi que os saltasse no tempo, para quando pudessem enfim sair em uma jornada juntos, o que não demorou a acontecer. O grande dia chegou e como sonhara, iniciou sua carreira como treinador ao lado do companheiro. Contudo, a felicidade não durou. Naquele mesmo ano uma doença rara assolava Unova, afetando inúmeros Pokémons do continente e deixando centenas de vítimas por onde passava. Ficou conhecida como Peste Rubra, por conta de seu sintoma mais evidente, uma vermelhidão nos olhos.
O Lilipup de Tristan foi um dos afetados, tendo adquirido a doença há poucos quilômetros de distância de Mistralton. Os médicos tentaram de tudo, mas uma cura ainda era desconhecida e o Pokémon não resistiu, falecendo depois de algumas semanas. Foi choque enorme para o garoto, que demorou algum tempo até conseguir lidar melhor com a situação e superar o trauma. Seu sonho inocente fora marcado para sempre e sentia que realizá-lo sem seu amigo era como uma traição. Por conta disto, decidiu por esquecer sua jornada e voltou para a casa de seus pais, onde permanecia até então.
Os anos que se seguiram foram sem sombra de dúvidas os mais angustiantes da vida de Tristan, que escolhera terminar seus estudos para depois trabalhar e viver uma vida sem qualquer contato com Pokémons. Entretanto, um sonho como aquele não poderia se calar tão facilmente e ele precisava se esforçar para não pensar. Tudo mudou quando conheceu Aisha em seu primeiro emprego, numa lanchonete no centro de Mistralton, se apegando um ao outro em pouco tempo. A garota conhecia a história e embora compreendesse o sofrimento do amigo, o incentivava a superar o acontecido para viver plenamente sua vida, sem culpa ou arrependimentos. Ela, diferente de Tristan, não possuía qualquer grande sonho que dominasse sua mente, mas sempre falava de como desejava sair daquela cidade para conhecer o mundo, para viver novas experiências e encontrar o lugar ao qual pertencia, ou se de fato era possível pertencer a algum lugar.
Suas duvidas não tardariam a ser sanadas, pois decidira por sair de Mistralton em breve. Os planos da garota eram de cruzar todo o continente de Unova, de uma ponta à outra. Não pretendia batalhar em ginásios ou qualquer coisa do tipo, queria apenas seguir seu caminho e conhecer todas as possibilidades, sem expectativas. Precisou fazer algum esforço para convencer o amigo a lhe acompanhar, não por medo de ir sozinha, mas por entender o quão seria importante para ele uma oportunidade como aquela, de reviver o velho sonho e encontrar outros novos durante o processo.
Tristan fora bastante resistente no começo, estava apegado ao sofrimento e se acomodara, sequer concebia a possibilidade de tentar mais uma vez, mas de repente lá estava ele, no interior da Torre Celestial, caminhando escada acima, prestes a se despedir do Lilipup com quem um dia dividira momentos únicos e com quem descobrira o que é realmente a mágica relação entre humanos e Pokémons.
Para uma pessoa desavisada, aquele poderia parecer um labirinto, mas para Tristan não. Sabia exatamente aonde ir assim que pisou no terceiro andar do cemitério. Seguiu por entre os túmulos, sentia a mistura de perfumes que as flores ali deixadas exalavam. Não trazia nenhuma, lembrava-se perfeitamente do olfato apurado de seu Lilipup e de como espirrava ao sentir certos odores de algumas plantas. Parou de andar quase que no centro do piso, ao encontrar o que procurava.
Na lápide de mármore em sua frente estava cravada a data do óbito, além do nome do Lilipup: Gaspar, uma singela homenagem ao seu tão querido e também já falecido avô. Uma foto sua com o Pokémon estava logo abaixo, com uma moldura prateada. Ajoelhou-se diante do túmulo e sorriu, um tanto quanto acanhado.
— Oi amigão... — disse de cabeça baixa, prendendo alguns cachos de seu longo cabelo castanho por detrás de uma das orelhas — Não sei como funciona aí no mundo dos espíritos, mas você já deve saber por que estou aqui, não é? Não pensei muito no que falar, sempre me sinto esquisito conversando com a sua foto...
Ali dentro fazia mais frio que do lado de fora, talvez por conta das paredes geladas ou do material que revestia o chão. Por alguns instantes, no entanto, sentia-se estranhamente aquecido. Aquilo sempre ocorria, era como se focos de calor surgissem para depois desaparecer.
— Você sabe que dentro do meu coração algumas coisas nunca mudaram... Acho que eu nunca disse em voz alta para não ser verdade, mas sempre senti secretamente. Se eu pudesse, te traria de volta para ir conosco...
Fez-se silêncio por alguns minutos. Tristan sentia uma mistura de vergonha com saudade, que se materializou em forma de lágrimas para fora de seus olhos.
— Me desculpa não ter sido o treinador que você merecia, Gaspar. Você esteve ao meu lado incondicionalmente e eu não pude fazer nada quando mais precisou. Me sinto fracassado há tanto tempo, mas não suporto mais me sentir dessa maneira. Preciso ir, pra me curar, pra me sentir como eu me sentia quando você estava aqui comigo.
Cobriu o rosto com as duas mãos, tentando em vão conter as lágrimas que caiam cada vez mais. Foi quando escutou um grunhido fraco. Abriu os olhos e soltou um grito que ecoou por todo o andar. Uma pequena chama púrpura flutuava acima da lápide. Levantou-se, assustado com o que via, duvidando de sua própria sanidade. Viver em um mundo onde criaturas não-humanas produziam fogo, gelo e até mesmo eletricidade, abria brechas para situações como aquela, mas ainda assim, à noite e em um cemitério, o sentimento era outro.
Olhou mais atentamente e conseguiu ver uma forma surgir. Era branca, muito pálida, semelhante a uma vela. Litwick era como era conhecido, um Pokémon fantasma, cujas lendas narravam historias assustadoras sobre como guiava humanos perdidos e os sugava a energia vital, que mantinha sua chama acesa. Aquele, no entanto, não parecia nada assustador. Tristan poderia jurar que o viu sorrindo.
— Olá pequenino — cumprimentou, enxugando as lagrimas que ainda umedeciam seu rosto. Nunca vira um Litwick antes, mesmo depois de tanto tempo frequentando o cemitério. — Estava ouvindo meus lamentos? Me sinto um pouco patético agora...
A pequena vela então desapareceu, reaparecendo em seguida, aos pés do rapaz. Mais uma vez sumiu, para depois surgir acima da cabeça de Tristan, que agora sorria, encantado com a criatura.
— Você é rápido, não é? Deve ser bom ficar invisível às vezes... Tenho tantas perguntas sobre a morte, queria que você soubesse falar como eu. Tenho gente querida do outro lado, por acaso já viu esse meu amigo vagando por lá? — apontou para a foto do Lilipup.
E como num sopro, Litwick esvaiu-se no ar, retornando para a lápide. Seus pequenos olhos amarelos focaram na imagem. Grunhiu e de alguma forma fez sua chama queimar mais forte, levantando os braços. O rapaz tomou aquilo como uma confirmação e se aproximou, empolgado.
— Sim? Já o viu?
O Pokémon fez que não com a cabeça e magicamente tomou controle do fogo que o cobria, dividindo-o e levando as chamas menores para a foto, circulando-a. Tristan temia que a imagem se queimasse, mas nada aconteceu, até que o fogo voltou para seu lugar de origem, com Litwick, que saltava sobre a lápide. Um pensamento passou pela cabeça do garoto, que o verbalizou, temendo uma resposta.
— Gaspar? É você?
E com um sorriso final, a chama de Litwick se apagou e ele desapareceu em seguida, sem retorno desta vez, deixando Tristan confuso e com inúmeras questões que lhe tomavam a mente.
— Não é possível... — disse para si mesmo, antes de rumar em direção à escada, perdido em seus pensamentos.
Caminhava como que em piloto automático, com o olhar distante. Sequer respondeu o “Noite...” do zelador, que permanecia na mesmíssima posição de antes. Cruzou a porta da torre e encontrou Aisha sentada no chão, com sua Purrloin no colo e os olhos vidrados no livro de antes.
— Foi rápido mesmo — comentou, tomando um gole do vinho e oferecendo ao amigo.
Ele pegou a garrafa e apoiou as costas na parede da construção, descendo aos poucos, para então beber uma boa porção do liquido.
— Tá tudo bem, Tristan? — Aisha perguntou, percebendo a perturbação na face do rapaz — Aconteceu alguma coisa?
— Acho que sim... Não sei...
— Como assim? Não entendo.
— Nem eu... — e tomou mais vinho — Acho que eu vi o Gaspar lá dentro.
— O túmulo dele?
— Não, ele próprio... Mas não era ele... Era e não era...
— Que isso amigo, você nem bebeu nada antes de entrar! Ou bebeu sem mim no caminho?
— Aisha, te juro, eu tava lá dentro e apareceu um Pokémon, um Litwick...
— Litwick? Aquele que parece uma vela? Aposto que tem muitos aí dentro, não teria lugar melhor pra um fantasma viver. — pegou a garrafa das mãos de Tristan.
— Claro, mas eu conversei com ele... Vai parecer loucura... Acho que ele me disse que era o Gaspar, não sei como é possível, mas senti que era.
— Você só pode estar enlouquecendo, Tristan! Como um Pokémon falaria? — ela então olhou para a Purrloin que cochilava em seu colo — Se eu souber que você sabe falar e nunca falou comigo, eu te esgano!
— Não foi com palavras... Foi muito esquisito, acho que estou ficando enlouquecido mesmo. Talvez seja um sinal pra que eu fique aqui mesmo. Não deu certo da primeira, não sei por que agora daria.
— Ah eu sabia! — exclamou Aisha, assustando a felina, que pulou de seu colo para o de Tristan.
A garota ficou de pé e encarou o amigo com enorme seriedade, não parecia nada satisfeita com o que ouvira. Respirou profundamente antes de começar a falar:
— Olhe aqui Tristan, eu não vou aceitar ser feita de otária desse jeito! Se você não quer ir comigo, não precisa ir, estou te esperando esse tempo todo porque disse que precisava ir com calma. Mais calma que isso nem um Slakoth consegue ter!
— Não é isso Aisha — ele tentava se explicar —, você não entendendo.
— Então eu sou burra, é isso? — e bebeu mais um pouco do vinho — Um Pokémon do além aparece pra falar com você e o sinal que te dando é pra continuar sendo infeliz? Porque você é tão pessimista? Tenho certeza que o Gaspar veio foi pra te dizer pra ir buscar sua felicidade e não pra morrer pensando em como tudo poderia ter sido diferente.
Os dois ficaram em silêncio por alguns instantes. Ela via como o olhar do amigo estava distante. Agachou-se diante dele, deixou a garrafa no chão e com as duas mãos segurou o rosto de Tristan, olhando-o no fundo dos olhos.
— Me desculpa falar assim com você, mas é que eu te amo muito e me dói ver você carregar tanta culpa nas costas. na hora de seguir em frente.
— Você acha mesmo que era o Gaspar lá dentro? Acha que ele veio me dizer pra seguir em frente?
— Olha, eu não sei... Já te contei de um documentário que vi uma vez? Sobre Pokémons fantasma.
— Não, acho que não...
— Bom, alguns cientistas acreditam que os Pokémons fantasmas são na realidade Pokémons mortos que não cumpriram suas missões em vida e voltaram pra terminar. Mas isso é só teoria, não dá pra confiar.
— Eu senti algo lá dentro, Aisha — falou honestamente. — Foi muito bizarro.
— E eu acredito em você, mas duvido que o Gaspar voltaria pra te dizer pra não realizar seus sonhos. É muito rolê espiritual só pra propagar rancor, não acha? Não o conheci, mas ele parecia ser um amorzinho, pelo que você fala.
— Ele era...
Aisha então voltou a se assentar ao lado de Tristan. Os dois olharam para o céu, hipnotizados com as centenas de estrelas que os cobriam. Tomaram um pouco mais de vinho. A garota deitou a cabeça no ombro do amigo.
— Eu não vou dar pra trás, prometo — ele disse, com os olhos marejados.
— Não quero que você vá contra sua vontade. Só quero te ver feliz e sei que na estrada, fazendo o que gosta, você será muito feliz. Muito mais que naquela merda onde trabalhávamos.
— Ah, mas aí qualquer lugar já é muito melhor que aquilo — ambos riram, relembrando do emprego do qual se demitiram recentemente para poderem viajar.
— Realmente... — concordou — Eu não sei se o Litwick com quem falou era mesmo o Gaspar, mas se for, tenho certeza que veio te desejar boa sorte e te dar muita energia positiva.
Ele concordou, enquanto fazia um cafuné na cabeça de Aisha com uma das mãos, ao passo de que com a outra acariciava a Purrloin.
— Que loucura, foi tão bizarro! Espero encontrar ele de novo.
— Aposto que irão, mas agora o que eu queria encontrar mesmo era mais vinho, porque esse aqui já tá no final.
— Que isso amiga, você bebeu tudo?! Eu nem provei!
— Não se faz de sonso, Tristan, eu bebi só um pouquinho a mais que você...